segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sobre o desprendimento

Chico Buarque fala na música "pedaço de mim", que a saudade é arrumar o quarto do filho que já se foi. Sempre achei isso a representação daquela saudade que faz doer, aquela saudade que não é nada saudável e que é a certeza de que você não é mais inteira. Imagine o que é perder alguém muito amado e tentar manter essa pessoa viva mantendo o quarto como santuário, referência, símbolo do apego e da falta de forças de seguir em frente.

É triste. Dói.

Muitas vezes é isso que fazemos com algumas situações em nossas vidas. A gente se apega àquilo. E não deixa ir embora. Os motivos para isso podem ser vários e nem é minha intenção falar sobre eles. Muito menos julgar se esse apego é bom ou ruim. Eu acho que é natural, por um tempo. Mas só por um tempo. Depois você tem que tirar tudo do quarto, arejar, pintar, transformar aquele espaço em algo novo. Porque depois de um tempo, esse apego a algo que já acabou se torna um empecilho. Você segue na vida mas não completamente. Porque o quarto está lá, arrumadinho. Vai que um dia você chega em casa e UPA! surpresa, a pessoa voltou do mundo dos mortos. É tão difícil enxergar com todo o seu coração e a sua mente que isso é impossível...

Dói.

Triste aceitar isso, mas é a realidade. Mas ele vai. E não é por causa dessa constatação fria que a gente deixa de viver e querer. Não é porque eles se vão que a gente deixa de pensar. Diferente, talvez. Mas aí entra, mais uma vez, a história do quarto lá, arrumadinho. Não há quem chegue se você ainda se mantém com um olho no futuro e um pé no passado. Mesmo que esse pé no passado esteja bem escondidinho e amuquiado embaixo da mesa, pra ninguém ver.

Sim, é preciso enterrar.

E há que se seguir em frente. Sem quartos.

Um comentário:

  1. Lindo texto! =) Adoro essa música de Chico!

    Mas n é muito fácil deixar os fantasmas de nossas vidas no passado...
    É um trabalho q deve ser feito sempre e só assim a gente cresce e fica cada dia mais forte!

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